RAMÃO PEREZ

RAMÃO PEREZ Conheci Ramão Perez nos meus primeiros dias como médico em Dourados, há mais de vinte anos. Sua neta havia nascido com problema grave nos olhos e eu, juntamente com o dr. Marcelo, cuidamos dela no berçário do Hospital Evangélico. Ela necessitou de várias cirurgias ao longo da vida. Aos poucos, fui conhecendo sua família, sua esposa, suas filhas, netos e netas, cuidava ora de um, dali a pouco nascia outro neto, e assim, nossa amizade foi se solidificando. Falar do nosso querido “Tio Ramão”, como nós carinhosamente o chamávamos, é falar de um homem que tinha um órgão que tomava todo o seu corpo: o CORAÇÃO. Era um ser, desses que Deus de vez em quando manda para a Terra, para nos lembrar que é possível amar e ser amado. Que nos lembra que é possível viver fazendo o bem. Que nossas vidas não se restringem às riquezas materiais, à ambição, à cobiça, ao poder. Aliás, um homem que, se quisesse, teria sido riquíssimo, pois ocupou diversos cargos, seja público ou político, mas que nunca se apegou à matéria, nunca se ouviu falar, por quem quer que seja que ele tivesse ocupado um cargo para se beneficiar, a si ou a seus familiares. Era um homem que, quando diretor regional do Detran aqui em Dourados, atendia sempre com a porta aberta, pois dizia que não tinha nada a esconder, não tinha nenhum esquema corrupto a participar, e portanto, não havia motivo para atender as pessoas com as portas cerradas. Isto era apenas uma das demonstrações da honestidade daquele grande homem. Foi um esposo exemplar, que o destino não quis que completasse cinqüenta anos de um feliz matrimônio. Faltava pouco para isso... Pai amoroso, com o seu orçamento sempre apertado, conseguiu formar todas elas, que hoje são grandes profissionais. Avô extremado, ajudou suas filhas a criar vários de seus netos, cuidando-os como se fossem seus filhos. Maçom, foi um dos fundadores da Loja Maçônica Justiça Liberdade e Disciplina, e, juntamente com o Tio Beto, nosso querido Alberto Nacin Abrahão, formava a dupla de cabeça branca, amado e respeitado por todos os seus irmãos mais novos, pois quando emitia uma opinião, trazia consigo a bagagem de muitos anos de experiência, o que fazia com que nós todos parássemos para ouvir com atenção suas palavras. Durante quase vinte anos, foi o grande esteio, novamente junto com o Tio Beto, da Ordem DeMollay de Dourados. Todo o sábado chovesse ou fizesse Sol, lá estava nosso Tio Ramão, orientando, puxando a orelha quando precisava, dando sempre uma palavra de estímulo, de apoio a jovens meninos, naquela fase crítica, dos quinze, dezoito anos. Quantos homens bem sucedidos de hoje, passaram pela ordem e tiveram o seu destino mudado pelas palavras e pelo exemplo do Tio Ramão? Talvez o destino de muitos tivesse sido outro, não tão feliz, não fora a oportunidade de conviver com aquele homem de cabelos brancos, fala macia, sempre com um sorriso nos lábios, um homem que transbordava amor em seus gestos e palavras. Tanto amor, mudou o destino de muitas pessoas, inclusive a minha. Um homem que com 78 anos, não havia se aposentado, continuou trabalhando até os seus últimos dias. Tinham tantos para cuidar, tanta coisa para fazer, que, mesmo com a saúde abalada, lá estava nosso incansável guerreiro, no batente, trabalhando como despachante, após ter sido gerente, vereador, e muitas outras ocupações que já citei acima. A vida de Ramão Perez nos leva à uma reflexão, de que realmente, o que vale na nossa vida são os nossos gestos, são as nossas obras, as nossas palavras. Um homem sem grandes posses, que vivia frugalmente, com seu Peugeot 106 já velhinho como ele, numa casa simples, mas sempre rodeado de pessoas que verdadeiramente o amaram e gostavam, não pelo que ele tinha, mas pelo que ele era. Um exemplo a ser seguido, cuja ausência física, vai fazer muita falta. Freqüentar as reuniões dos DeMollay ou da Loja Maçônica Justiça, vai ser doloroso no início, sempre a nos lembrar o quanto sua figura faz falta. À família de Ramão Perez, nosso agradecimento, por nos ter dado a honra de conviver com um homem tão maravilhoso. Tão pleno de AMOR. Obrigado, Tio Ramão. Sua imagem ficará para sempre nos nossos corações, à espera de um reencontro. Que eu espero não tão breve... TAKESHI MATSUBARA Médico.
publicado por drtakeshimatsubara às 15:59 | favorito